Promotor
A Oficina CIPRL
Breve Introdução
Um dos traços distintivos da história da música popular ocidental do século XX, e as origens do jazz são em si mesmas a expressão deste princípio, é o da crucial influência exercida pelas margens sobre o centro. Na era da massificação, a criação artística democratizou-se, tornando-se desta forma incontrolável, no sentido em que passou a favorecer formas de expressividade espontâneas e desclassicizadas, ou seja, finalmente livres dos constrangimentos do classicismo da academia. Praticamente todos os géneros musicais modernos rock, hip-hop, funk e todas as suas derivações constituem expressões culturais não-institucionais (marcadamente urbanas) que foram absorvidas pelo sistema económico. Se aceitarmos esta interpretação, acabamos por concluir que, em certo sentido, a narrativa sonora do século passado é uma história de rumores subterrâneos que, sendo considerados ou ultrajantes ou incompreensíveis no momento que aparecem, acabam quase inevitavelmente por, mais tarde ou mais cedo, se afirmar como tendências dominantes no sistema económico-cultural.
Nos últimos trinta anos, tornou-se convencional na crítica musical a distinção clara entre duas grandes correntes na arte contemporânea: a corrente principal (mainstream) e a corrente marginal (underground) ou, por outras palavras, a arte que produz valor económico e a arte que recusa esse sistema de monetarização do ato criativo. O WHO Trio cabe naturalmente nesta segunda e mais difusa categoria de músicos intransigentemente anti-económicos mas cujas ideias começam agora a invadir o meio institucional do jazz, agora tolerante à improvisação livre e à exploração de largo espectro. Composta por três músicos de excelência, esta formação é uma das pioneiras do movimento de reconexão espiritual entre o radicalismo formal e a tradição, propondo assim uma terceira via entre o free jazz dos anos setenta e as tendências de fusão dominantes nas décadas de 1980 e 1990.
Na música altamente ressonante deste trio, a matriz original do jazz é invocada de forma expansiva numa constante procura de novos horizontes entre composição e improvisação, balançando permanentemente entre a dimensão individual e a dimensão coletiva do gesto de criação musical. A sua identidade é inseparável do estilo dos seus intérpretes, três músicos com uma abordagem altamente física ao seu instrumento: os suíços Michael Wintsch (piano) e Bänz Oester (contrabaixo), dois nomes importantes da improvisação europeia, e o norte-americano Gerry Hemingway, membro dos BassDrumBone e colaborador, entre muitos outros, de figuras seminais do jazz como Anthony Braxton ou Cecil Taylor. O projeto mais recente dos WHO, "Strell", e que estará previsivelmente no centro do concerto no Guimarães Jazz 2021, é dedicado à reinterpretação do legado musical de Billy Strayhorn e Duke Ellington, dois nomes fundamentais da música popular do século passado e cujo legado continua a exercer uma influência inegável sobre a criação musical contemporânea. Simultaneamente tenso e delicado, abstrato e orgânico, sempre focado na dimensão interativa da música, o som deste grupo destaca-se sobretudo pelo trabalho de descoberta de novas gramáticas a partir de linguagens antigas, novas palavras que ecoam no nosso tempo e cujo rumor começa agora a ser escutado.
Ficha Artística
Michel Wintsch, piano
Gerry Hemingway, bateria
Bänz Oester, contrabaixo
Preços
10,00€ / 7,50€ c/d
DESCONTOS:
Cartão Jovem I Estudante I Menores de 30 anos I Maiores de 65 anos I Deficientes e Acompanhante I Quadrilátero